Crítica: “Amar Pablo, Odiar Escobar”… ou “Amar Penélope, Odiar Javier”


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Baseado no livro de memórias da jornalista Virginia Vallejo, “Amar Pablo, Odiar Escobar” marca o regresso do power couple de Hollywood, Penélope Cruz e Javier Bardem, ao cinema.

A jornalista colombiana que durante 5 anos viveu uma paixão ardente e venenosa com o líder do cartel de Medellín, lançou em 2007 aquele que viria a tornar-se um dos retratos escritos mais pessoais e íntimos da figura maior do crime da Colômbia. Penélope Cruz e Javier Bardem – Virginia Vallejo e Pablo Escobar, respetivamente – decidiram então aventurar-se e interpretar em carne e osso as memórias destas duas personagens.

Exibido pela primeira vez no 74ª Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 2017, o filme realizado por Fernando León de Aranoa falha a partir do primeiro momento quando a sua protagonista se expressa com a língua de Sua Majestade. Claramente à procura de apelar a mercados e públicos mais vastos, a escolha do inglês para idioma principal de uma história que se desenrola na América do Sul (com atores e realizador espanhóis), parece atraiçoar tudo o que está para vir, ao som de sotaques nada calientes.

Javier Bardem, que assina como produtor, traz-nos uma imagem espelhada do que era Pablo Escobar à época. Uma interpretação aos tombos, dentro do que Bardem já provou ser capaz, – como Este País Não É Para Velhos ou Vicky Cristina Barcelona, também com Penélope Cruz -, mas revela-se vítima de fracas opções criativas e um guião pouco conseguido para a personagem.

Uma das notas positivas vai para a barriga – não, a grande barriga – postiça,
exposta como se de uma verdadeira obesidade/quase gravidez masculina se tratasse. Conseguirá enganar os mais iludidos e impressionar os mais experientes na curiosa observação cinematográfica.

Em destaque mais que óbvio: a performance de Penélope Cruz. Trabalho de casa bem feito – provavelmente terá bebido muito do livro no qual o filme se baseia – a atriz espanhola toma as rédeas da atenção da sala nos primeiros minutos e torna-se a droga de que não sabíamos estar a precisar. Pode parecer cedo mas quem sabe uma nomeação nos Óscares ou nos Globos não surgirá para uma já experiente (e oscarizada) atriz que vê aqui, em todas as cenas onde participa, uma oportunidade de agarrar o espetador com o olhar e as suas artimanhas emotivas.

No final das duas horas e poucos minutos damos por nós a recuperar de uma viagem atribulada: ora chegamos ao encontro de Pablo, o pai de família; ora “apanhamos” Pablo, o exterminador implacável; ora espreitamos, em pouca profundidade o ambiente televisivo de Virginia, a jornalista; ora sabe-nos a pouco todas as cenas sobre o tráfico de droga na Colômbia e Estados Unidos (culpa de Narcos, quem sabe)… Tudo parece repentinamente atirado ao espetador. Reina a falta de foco e de um fio condutor. Nem a paixão dos dois protagonistas nos faz sentir sempre bem ou sempre mal, quer por um, quer pelo outro mas, ainda assim, nunca conseguirmos tirar os olhos de Penélope que dá tudo pelo seu papel.

Narrado como se de facto de um livro de memórias se tratasse – pela voz de Penélope Cruz – seria possível amarmos este filme se toda a atenção estivesse concentrada na personagem feminina e fosse esse o caminho narrativo a seguir. “Amar Virgínia, Odiar Pablo”.

Classificação: 5,5 (de 0 a 10)

 

Artigo de: Diogo Fernandes