Crónica Collippo: És um NEET?

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Quando começámos nas lides do trabalho para jovens fomos confrontadas com uma série de novos conceitos que nunca tínhamos ouvido falar, um deles foi a sigla NEET. Um conceito que representa um conjunto de pessoas que não são uma prioridade e carecem de maior destaque nas agendas políticas nacionais. Complicado? Um pouco, mas explicamos-te tudo ponto por ponto e vais ver que vais sair deste artigo de cabeça informada e leve.

Os NEET, quem são? 

NEET é um acrónimo para Not currently engaged in Employment, Education or Training, ou seja, este termo serve para determinar pessoas que não trabalham, estudam ou se encontram em formação. Talvez conheças alguém dentro desta categoria, um primo, uma amiga ou um conhecido, que “desistiram” de procurar trabalho e que vivem com os pais, por exemplo. Em termos institucionais, a taxa de desemprego no País é fornecida pelo IEFP, que por sua vez apenas assume que o desempregado está inscrito naquele Instituto, o que raras vezes sucede com verdadeiros casos de jovens NEET, que não procuram activamente trabalho nem se apresentam disponíveis para trabalhar. É fácil rotular estas pessoas como pouco determinadas e que não “prestam para trabalhar” mas o desemprego é só uma face deste universo de pessoas, há muito mais a fazer para além destes comentários fáceis e que pouco ajudam uma franja de população em exclusão. 

Quantos NEET existem em Portugal? 

O Conselho Nacional de Educação (CNE) avançou, no relatório “Estado da Educação 2019” (edição 2020), que a proporção de jovens dos 15 aos 34 anos que não estudavam, não trabalhavam, nem frequentam formação se fixou na média nacional de 9,5% em 2019, realçando contudo que existem “assimetrias regionais”, sendo que nas Regiões Autónomas se atinge os 16,4%, por exemplo. 

Ou seja, falamos em cerca de 10% desta fatia da população inactiva que se encontra exposta às sérias vulnerabilidades causadas pelo “estado NEET” que, em muitos casos, se arrasta por longos períodos e deixa sequelas permanentes. 

Qual é o “problema” dos jovens NEET? 

Os jovens NEET estão desligados do mercado de trabalho, do universo da educação e vivem em situação de exclusão social, não participando de forma plena na sociedade, que na prática, “se esquece” que eles existem. 

Ao deixarem de procurar emprego, tornam-se invisíveis para as estatísticas e colocam-se fora do alcance das políticas sociais que permitiriam a sua eventual inclusão. Por não se integrarem, cavam o fosso entre si e os seus pares que seguem percursos ditos “normais”, alimentam-se assim de uma espiral regressiva que os empurra para postos de trabalho pouco qualificados ou para sérias dificuldades em manter um emprego, seja ele qual for, por não terem estruturas para tal. 

Estes longos períodos de inactividade segundo o relatório “A crise do emprego jovem: Tempo de agir” de 2012 da Organização Internacional do Trabalho, têm a susceptíbilidade de gerar sérios danos na saúde física e mental destes jovens, pois “as esperanças legítimas de encontrar um emprego e uma carreira são quebradas e substituídas pela dor relacionada com a injustiça da rejeição social”

Estas questões vão-se embrulhando entre si e desembocando em insatisfação geral com a vida, perda de auto-estima, stress generalizado e, em muitos casos, a quadros depressivos, de ansiedade e de abuso de substâncias que chegam a culminar em suícidio. Prevê-se que a situação pandémica do País e do Mundo venha a agravar este cenário, que se perpetua durante estes tempos de confinamento, aumentando o risco de exclusão social destes jovens. 

E soluções? O que está a ser feito para apoiar os NEET? 

Cabe aqui dizer que existem tentativas de resposta a estas situações. Contudo, são programas que pretendem, essencialmente, facilitar a entrada no mercado de trabalho (INOV Contacto ou o Garantia Jovem) ou promover mais formação para estes jovens (como o programa Empreende Já), o que não parece actuar na génese do problema, que se mostra complexo e com necessidade de intervenção multidisciplinar. O jovem NEET precisa de trabalhar, sim, mas também tem necessidade de acompanhamento e orientação no sentido de melhorar as suas competências pessoais e sociais, bem como de organização e de trabalho, para que consiga manter com sucesso uma vida laboral e um dia-a-dia feliz e realizado. 

Aqui na Collippo acreditamos que a solução passa por retirar o jovem NEET do seu contexto de exclusão e os intercâmbios, formações e programas de voluntariado do Erasmus+ são um belo ponto de partida, pois podem ajudar a desbloquear alguns destes problemas, dando espaço aos jovens para reflectir e experienciar outros mundos, tão cheios de pessoas que partilham as mesmas dores e não só. Os projectos Erasmus + têm sempre espaço para a auto-reflexão e é aí que o jovem descobre os fatores internos e externos que o limitam e o excluem da sociedade e participação cívica. 

Se conheces alguém ou te sentes tu próprio nesta situação, explora os programas que referimos e está atento às nossas redes sociais (@collippoyouth), que divulgam frequentemente oportunidades fantásticas para abrir janelas nas nossas cabecinhas. E, não te esqueças, não hesites em procurar a nossa porta, que estará sempre aberta para te tentar ajudar!

Crónica Collippo: Ode a uma independência dependente


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Na já habitual crónica da Associação Collippo, neste número cinco, fala-se sobre os problemas inerentes à coabitação em tempos de novo confinamento.

“Coabitar em pandemia é como viver dentro de um reallity show sem câmaras. Infelizmente, tive a oportunidade de participar num enquanto estava em isolamento profilático por ter colegas de casa infetados com a covid-19. É bom referir que éramos 6 a viver num único apartamento durante 14 dias, ininterruptamente! Nessas duas semanas, houve tempo para chorar, gritar e até telefonar algumas vezes para o 112, e sei perfeitamente que não fui a única a passar por isto.”, partilha a Joana, ainda com o stress pós traumático à flor da pele.

Pois é, vamos falar de relações de coabitação, mesmo depois do dia dos namorados e em pleno confinamento 2.0.

Nos últimos anos, tem-se assistido a um retardamento da emancipação dos jovens adultos; de acordo com um artigo do Público de 2016, 29 anos é a idade média dos jovens portugueses quando saem de casa dos pais. Mas sair das casas dos pais não significa viver sozinho, isso é privilégio de muito poucos. Os restantes têm a “sorte” de emparelhar o salário com a cara metade ou aventurar-se a viver com amigos, conhecidos e desconhecidos. Em suma, a dependência emocional/financeira associada a esta coisa de ser livre não é algo de novo em Portugal e acaba por ser um subproduto de uma emancipação no mínimo tímida e com isto que se está a passar a instabilidade intensifica-se.

Aos que foram, mais uma vez, empurrados para casa, seja por teletrabalho, lay off ou desemprego, não lhes são perdoadas as despesas da casa, que pelo contrário aumentam, e o que se poupa em transportes não anula este aumento. E renda de casa? Essa é a mesma. Esta pequena coisa de sobrar mês no fim do ordenado, conjunta à existência de pessoas à nossa volta 24 sobre 24 faz com que facilmente as relações azedem.

Em pleno confinamento a tarefa de coabitar torna-se ainda mais desafiante, não só por passarmos o dia inteiro com alguém, mas também pelo facto de esse alguém ser o mesmo, dia após dia. Esta nova realidade que conhecemos no ano passado e a que ainda estamos a ser sujeitos nos dias de hoje, com este segundo confinamento, está a causar mossas evidentes no relacionamento entre as pessoas que vivem juntas. A pouco e pouco, tornamo-nos mais impacientes e indiferentes, incapazes de perceber que a vida da outra pessoa também foi virada ao contrário com a pandemia. E é aqui que a dependência financeira e a emocional se encontram. Se nos dias que correm grande parte dos jovens adultos estão com contratos de trabalho precários ou até mesmo no desemprego, não têm capacidade financeira para encontrarem um novo espaço para viverem, estando assim reféns dos moods, vontades e hábitos de outros.

Não é assim tão grande a distância entre a roupa que insiste em não sair do estendal e uma discussão acesa sobre quem ultrapassa mais os limites do outro, especialmente, quando nunca fomos ensinados a manter uma higiene emocional e social adequada. Enquanto a saúde mental for uma buzzword sem plano de ação vamos continuar a sentirmo-nos impotentes, a perder a nossa pouca independência e a não saber viver com quem dependemos. Seja por um relacionamento emocional ou por conveniência financeira. O momento de prevenir ficou lá em 2019, por isso deixamos aqui uma lista de remédios para ajudar a suportar esta realidade por mais um mês e meio.

– Conversa com os teus coabitantes sobre como se podem tolerar melhor (se ainda conseguirem);

– Encontrem tempo para estar sozinhos e, se possível, cada um ter o seu espaço;

– Faz coisas que gostes, por muito pequenas que sejam;

– Faz um planeamento das tarefas de casa e vai avaliando se todos conseguem manter o compromisso com tranquilidade;

– Antes de partires para o confronto, respira, vai dar uma volta e tenta observar as tuas emoções como um expectador, pode ser que encontres uma forma diferente de lidar com a situação no entretanto.

Todas estas soluções, ou tentativas, servem para pequenos males e quando ainda existe possibilidade de cooperação. Sabemos que às vezes isso não é uma possibilidade, se está a ser difícil para ti podes sempre ligar para a linha de apoio à saúde mental da saúde 24 ou, em casos extremos, fala com a APAV pelo 116 006.

Crónica Collippo: Um punhado de medidas para jovens numa pandemia

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Estamos novamente fechados mas há sempre alternativas para bem da nossa saúde mental e com um final feliz… de trabalho. Esta é a quarta crónica da Collippo.

Não é novidade para ninguém: passaram onze meses e a pandemia instalou-se como um ocupa que vem viver em nossa casa nos tempos de faculdade. Diz que fica um mês e quando damos por nós, estamos a abrir mão do sofá.

Com o impacto negativo da COVID-19 passa-se a mesma situação, só que ao contrário – ficámos com o sofá mas abrimos mão de muita coisa!

Para os jovens-adultos, especialmente os mais vulneráveis, as consequências estão aí, escarrapachadas em taxas de desemprego superiores às da crise de 2008 e nas fragilidades da saúde mental que aumentam a cada anúncio de um novo estado de emergência. Viver sem sustento e sem saúde foi a história dos nossos avós e, de repente, esse difícil passado parece-nos o futuro inevitável.

Estamos de frente para a onda mas não queremos que ela te apanhe sem que conheças o que está a ser feito e de onde poderá vir algum apoio. Por isso, metemos as mãos no Google e recolhemos algumas medidas – ou tentámos.

A dificuldade dos jovens em ingressar no mercado de trabalho era já um problema conhecido da União Europeia, que se agravou em 2020 e levou as instituições a investir largos milhares de milhões de euros em estratégias de apoio e incentivo à empregabilidade jovem.

Em Portugal, esta bazuca (que está enquadrada num programa que se dá pelo nome de “Garantia para a Juventude”) foi aplicada num programa já existente – o Garantia Jovem. Para teres acesso a este plano, começas por te inscrever, sendo-te devolvida, no prazo previsto de quatro meses, uma oferta de emprego, de educação, aprendizagem ou estágio. O programa abrange também aconselhamento adaptado nesta matéria, orientação e mentoria.

Já em Leiria, as medidas de apoio aos jovens ainda não são conhecidas, no entanto, está a decorrer o programa de apoio “LEIRIA FICA EM CASA. Este programa está dividido em várias áreas de apoio, desde empresas, idosos, comércio, serviços e saúde. Dentro de todas as áreas de apoio, as únicas que estão directamente relacionadas com a juventude é o apoio extraordinário cedido às associações e também um apoio a famílias carenciadas que acabam por ser apoios bastante indirectos ainda assim necessários.

Também foi criado o GIP – Gabinete de Inserção Profissional, que tem como objetivo apoiar jovens e adultos desempregados no seu percurso de inserção ou reinserção no mercado de trabalho, em cooperação com o Centro de Emprego de Leiria. Podes entrar em contacto com o gabinete via Facebook ou marcar atendimento presencial – o gabinete está sediado no Mercado Santana e é super disponível para te ajudar, já lhe fizemos uma visita e podemos garantir isso 😉

Apesar destes esforços, o que é facto é que a nossa urgência ainda não chegou aos olhos das instituições locais, pelo menos com o impacto desejado.

As estratégias levam o seu tempo a ser construídas mas há bons exemplos, especialmente no estrangeiro, que podem servir aqui, de base comparativa.

Vários países da OCDE, incluindo Estônia, Alemanha, Polônia e Suíça, lançaram iniciativas de participação online para envolver os cidadãos nos esforços de resposta e recuperação da COVID-19; já Itália, estabeleceu uma task force com várias partes interessadas para lidar com a disseminação da desinformação ligada à pandemia.

Também o Conselho Nacional da Juventude da Finlândia, que publicou “7 objetivos para manter os jovens envolvidos”, para fortalecer o setor da juventude, garantindo serviços de saúde para todas as idades, formação e apoio ao emprego em uma base temporária. E como a aplicabilidade destas estratégias é essencial, foram feitos briefings de imprensa online dirigidos a funcionários do governo para lhes transmitir a melhor forma de apoiar organizações lideradas por jovens, no meio da crise em 2020. Que linda, esta Finlândia.

Aplicar os fundos europeus em estratégias que já existem, sem cuidar de as rever, actualizar ou verificar se estão anacrónicas ou não colmatam as reais necessidades dos jovens nesta etapa é infelizmente uma história que se repete por cá.

Além disso, e ainda a nosso ver, este género de medidas, no nosso município, não são veiculadas em canais youthfriendly ou através de associações que trabalhem directamente com o público alvo. O mesmo é dizer que as medidas e estratégias podem existir e estar nas melhores intenções dos decisores políticos; contudo, enquanto não forem comunicadas eficazmente à população a que se dirigem, manter-se-á o clima de desinformação e a dificuldade de acesso aos programas.

Começámos este artigo a falar de desemprego e saúde mental, e no meio das pesquisas descobrimos que não estamos preparados para a próxima pandemia, ainda não foram lançadas medidas governamentais específicas para o bem-estar mental e emocional dos jovens. Essa parte continua a cargo das associações e movimentos, como a The Pineapple Mind que todos os dias vêem este tema a ser negligenciado, enfim, conversas para um próximo artigo.

Até lá, protege-te.

Crónica Collippo: Desejos para 2021 – VIVER, TRABALHAR, DESFRUTAR!

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Nesta crónica a Associação Collippo escreve os seus maiores desejos para 2021 e numa cidade de Leiria repleta de novas oportunidades.

Vivemos num lugar cheio de potencialidades. A cada canto um espaço que poderia ser uma outra coisa qualquer, aquela lojinha perfeita, para o projecto do fulano, que está há anos na gaveta ou aquela coisa que há noutra cidade mas aqui não e nem sabemos bem porquê.

Na Collippo passamos os dias nisto, a sonhar com o que Leiria podia ser. Olhamos para ela como quem sonha com Berlim ou Copenhaga. E como não? Temos um concelho com criatividade vendida a metro, onde o urbano e o rural casam, discutem, mas não se fartam um do outro. Somos hipsters, punks, góticos, betos e saloios. Somos um bocado de tudo e aqui há espaço para toda a gente, em teoria.

Mas como chegamos lá? A esse município fixe onde todos podem ser como são, onde todos têm a oportunidade de se potenciar, cooperar e criar? Para nós, parte da solução passa por colocar os jovens-adultos no centro das políticas locais, não como meros livros de consulta, mas como parte integrante nos momentos de planear, decidir, implementar e avaliar. Os jovens
são conectores, curiosos, criativos e dinâmicos. São o futuro dos municípios, literalmente!

Mas enquanto não temos essa possibilidade, ou melhor, enquanto a pandemia nos vai alterando os planos, deixamos os nossos desejos para nossa cidade.
Desejamos ter melhor acesso a cuidados de saúde, melhores condições de mobilidade, VIVER com a diversidade e ser sustentáveis social, financeira e ambientalmente nas nossas rotinas diárias, para que possamos realmente planear viver aqui por muitos e longos anos.

Desejamos TRABALHAR, em empregos justos e qualificados, com salários competitivos. Queremos sentir mais apoio no acesso ao emprego, a plataformas de comunicação entre os jovens que cá temos e os jovens que cá são precisos.

Mas também queremos DESFRUTAR, sentir, abraçar, voltar a assistir a espetáculos, festivais, música na rua, nos bares, nos espaços públicos! Se antes da pandemia a cultura, o entretenimento e o lazer eram considerados luxos, nos dias que correm sabemos que estes são essenciais para o nosso bem-estar.

Para que estes desejos se concretizem, é essencial criar proximidade entre instituições locais e a comunidade jovem, que em conjunto podem promover o crescimento do município e construir políticas eficazes. Políticas que viabilizem a fixação dos jovens, como falámos há pouco, mas também que encoragem a vida por Leiria além do emprego, adoramos esta cidade e só
queremos vê-la a prosperar geração após geração.

E que 2021 seja o início da construção desse município bom de viver, trabalhar e desfrutar.

 

Foto: Visite Leiria

Crónica Collippo: Para o Natal quero um contrato normal

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A Collippo está em espírito natalício mas não esquece a condição de muitos dos jovens adultos portugueses. Nesta crónica escreve uma carta aberta ao Pai Natal.

Querido Pai Natal, este ano tenho um desejo especial: quero um contrato de trabalho normal!

Acho que me tenho portado bem nestes últimos anos porque:

– Mal concluí o meu percurso escolar, enviei muitos currículos e fui a muitas entrevistas (ou vá, fui às que me chamaram para ir!);

– Fiz um estágio não remunerado na minha área, para adquirir experiência;

– Trabalhei em part-times não relacionados com a minha área, sem contrato, recibo ou qualquer vínculo laboral. Uma vez, até me ofereceram a possibilidade de me inscrever num emprego, através de um estágio do IEFP, mas não queria usar essa oportunidade num trabalho fora da área;

– Trabalhei por uns tempos na minha área, recebia pouco e até fiz horas a mais, muitas, todos os dias, para que vissem que me dedico ao trabalho, não vá alguém dizer que não tenho melhores condições porque não me esforço! Eu cá não sou piegas!

Eu só gostava de ter um contrato de trabalho normal, onde, sei lá, pudesse, depois do período experimental considerar-me efectiv@ na empresa, o que me iria abrir um mundo de possibilidades, como conseguir pedir um empréstimo de habitação, por exemplo.

Um contrato onde me pagassem horas extra ou me retribuíssem o trabalho prestado em dias de descanso. É que isto de não ter um horário definido, ou ter só “hora para entrar”, às vezes torna-se difícil de gerir, levando-me a sentir que a minha única prioridade na vida é o trabalho.

Sei que não peço demais, mas também gostava que me fossem pagos subsídios de férias e de Natal em tempo próprio ou então, decidir por acordo se quero que os paguem por duodécimos. Ouvi dizer que o direito a escolher é coisa que vem na lei, mas disso não compreendo muito…

Para além do contrato normal, adorava comunicar facilmente com o meu empregador para, por exemplo, não ter de ir trabalhar com febre ou deixar de ir ao dentista porque ele só atende em horários laborais. E também acho meio tolo ter de pedir férias para ir ao dentista, está bem que estou estendid@ numa cadeira, mas o som da broca e luz das lâmpadas são um conceito de praia bem fraco.

Dentro deste barco, há outra coisa que me traz ansiedade e algum desânimo: é possível com o contrato normal, vir um pacote de direitos a ele associados, que também dizem estar previstos na lei? Falo de horas anuais de formação profissional contínua, para que continue a evoluir na minha carreira. Ou… sei lá, poderei pensar em ter filhos sem sofrer pressões de nenhuma espécie, nomeadamente, sem ter receio de não ter tempo de os acompanhar no seu percurso escolar?

E poderia estar aqui a escorrer mais um monte de situações mas para tristezas já me chegou este ano. E só agora reparo que nem me apresentei, afinal quem sou eu?

Eu sou alguém que neste 2020 ficou em lay-off simplificado e sem um terço do vencimento normal, alguém cujo contrato a termo não foi renovado porque o motivo justificativo “deixou de se verificar”, alguém que está a recibos verdes e trabalha 24 sobre 24, cumprindo ordens dos seus superiores e respeitando horários de trabalho (o chamado falso recibo verde), alguém com trabalho sem contrato nem recibos, que não desconta de maneira de nenhuma, apesar de não se sentir confortável nessa posição e querer ter um vínculo efectivo de trabalho.

Eu sou todos estes casos e muitos outros. Podes chamar-me jovem, precário, millennial, o que quiseres. O desespero levou-me a falar contigo, já não parece tão descabido pedir ao Pai Natal… Por isso, querido Pai Natal, no Natal, dá-nos um contrato de trabalho normal!

Manifesto Collippo: Tornar-se adulto, fazer-se adulto, sentir-se adulto

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A Collippo é uma associação sediada em Leiria que tem como principal objetivo ajudar os jovens adultos. Agora escrevem duas vezes por mês na TIL.

O processo é inevitável mas nem sempre é natural.

É tudo novo outra vez – procurar emprego, encontrar casa, fazer o IRS, ir à segurança social e ainda assim arranjar tempo para estar com amigos, viajar e ser.

No meio das dúvidas vamos confundindo maturidade com seriedade e comprometemos aquilo que nos torna únicos sob o mote do “é assim que a vida corre.”

O borbulhar de ideias e sonhos que era constante é silenciado pelas obrigações que ninguém cumprirá por nós, obrigações essas que, muitas vezes, nunca ouvimos falar e/ou não sabemos executar.

Enquanto embatemos nestes novos processos, surgem dúvidas, acumulam-se frustrações e, quando finalmente nos conseguirmos desenvencilhar deles, percebemos que a energia e o tempo despendidos já foram demasiados. O tempo livre encurta, e com ele, também a vontade de criar, pensar e agir com a leviandade e com o desprendimento típico do pensamento jovem.

O discurso homogeniza-se, torna-se consonante e assim a comunidade perde o pulsar jovem, as suas especificidades e heterogenia de pensamentos, opiniões e ideias.

É neste contexto que a Collippo nasce – queremos descomplicar!

Por um lado, pretendemos desconstruir o entendimento dos jovens em relação aos processos burocráticos com os quais se deparam pela primeira vez, mostrando-lhes da forma mais leve e relatable possível que “o mundo dos adultos”, ao qual acabaram de chegar, não tem de ser o sítio entediante que imaginaram.

Por outro, e porque cremos que libertando algum peso dos jovens nesse sentido é possível abrir espaço para que a sua autenticidade e individualidade se traduzam em ideias palpáveis, projectos ou participação activa na vida cívica, acreditamos que essa energia jovem será devolvida à comunidade sob a forma de acrescento, de novos prismas e ideias.

NOTA EDITORIAL:

A Collippo vai estar na TIL duas vezes por mês para te falar sobre os trambolhões do que é ser jovem adulto por Leiria e não só. Daqui para a frente, podes contar conosco para trazer temas para cima da mesa, dar opiniões e até dicas que te facilitem a vida. A Flávia, a Nádia, a Bruna, a Patricia e a Joana fazem parte desta equipa, todas diferentes e multidisciplinares vão te dar várias perspectivas a cada artigo que irá ser publicado. Por agora é tudo, anda daí que há muita coisa para falar.

Esta associação feita por jovens amig@s e foi fundada em 2018, feita de uma gana de tornar Leiria uma cidade que se mexa, com irreverência, inovação social e desenvolvimento local, sempre com os olhos postos no que se passa em Portugal e na Europa, mas acima de tudo com muita cooperação.

Temos uma posição apolítica, laica e sem fins lucrativos, composta por voluntári@s que trabalham em prol dos jovens em três campos de acção, a disponibilização de oportunidades de aprendizagem em contexto europeu, o apoio à emancipação jovem e a criação de pontes entre instituições locais e os jovens.

 

Foto: DR