Entrevista aos Paraguaii – “É preciso ter coragem para cantar em português”


Escrito por:
Catarina Pedro
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“Dream About The Things You Never Do” é obra dos Paraguaii e neste momento é uma das mais recentes edição BLITZ Records. Este álbum é composto por 8 temas nos quais a eletrónica reminiscente dos anos 80 e a matriz rock assumem o controlo.

No dia 15 de junho, atuaram no Centro Cultural de Congressos e a TIL Magazine esteve presente. A banda é formada por um trio que compõe, grava e produz os próprios álbuns. Estivemos à conversa com os três – Giliano Boucinha, Igor Gonçalves e Zé Pedro Correia. Quisemos no fundo saber quem são os Paraguaii desde o trabalho de estúdio, das atuações em palco e da forma como comunicam com público.

 

Quem são os Paraguaii?

Os Paraguaii não têm identidade própria nem contínua. A frase dita por Sérgio Felizardo in Vice que anteriormente nos caracterizou como uma banda pop-psico-tropical-com-travo-a-qualquer-coisa-que-às-vezes-parece-blues-agreste já não faz sentido. Uma das grandes premissas dos Paraguaii é nunca dar continuidade ao que se fez antes.

 

Em termos puramente sonoros vêm-se como um mistério. Até que ponto pode o mistério estar de mãos dadas com o público e que público é este?

Nós somos mais consistentes ao vivo do que em álbuns. Ao vivo nos fazemos questão de ser agrestes e de passar a mensagem fortemente. Em álbum nunca se consegue passar a mesma energia.

O público dos Paraguaii está definido a cada álbum que lançamos. Não garantimos que esse público se mantenha até ao próximo. Sempre que sentimos que estamos muito confortáveis a fazer algo, tentamos agitar as águas.

Consoante os trabalhos que vamos lançando nós ganhamos e perdemos pessoas que gostam de nós.

 

Qual a língua oficial dos Paraguaii?

 Enquanto letrista faz-me mais sentido escrever letras em inglês. Para cantar em português é preciso ter coragem para escrever porque a crítica será muito mais acentuada.

Não faz parte dos nossos planos ter uma música em português. Nem sequer pensamos nisso. Há uns 15 anos atrás começou-se a perguntar por que é que as bandas portuguesas não contavam em português, mas isso para nós passa-nos ao lado. Cada um canta como se sente mais confortável.

 

 

 Numa espreitadela pelo vosso album “Dream About The Things You Never Do”, reparei que músicas abordavam uma ótica crítica da sociedade. Desde o “Karma is a bitch” passando pelo “Free and wild” e por exemplo “She was a boy” qual é a mensagem que querem passar?

 

Não há uma mensagem que queiramos passar. Não somos uma banda de intervenção. Somos contadores de histórias. É verdade que temos uma visão crítica mas, não há nada em concreto que queiramos passar – isso iria limitar-nos.

 

 

Passei pelo vosso facebook e achei muito interessante a forma como comunicam – no fundo como se mostram. No mundo da música as redes sociais podem influenciar de alguma forma um novo tema?

A melhor ligação que nós conseguimos com o público é ao vivo. Nós transmitimos muita energia e na terceira música já conseguimos ter as pessoas as pessoas a dançarem e a divertirem-se connosco. As redes sociais para nós pouco significam. As letras surgem quando menos esperamos e são algo momentâneo em que, sem dar conta, já está criada.

 

São os três “homens” de barba rija. Há “borboletas” no estomago antes de entrarem em palco?

Não sentimos nervosismos quando entramos em palco. O medo e a ansiedade são distratares muito fortes. A partir do momento em que começamos a pensar que somos humanos e que, se houver um erro é algo natural, tudo corre melhor. Além disso, o público compreende qualquer falha e respeita. Quando subimos a palco, estamos certos do que estamos a fazer. Embora tentemos exteriorizar as emoções, nós tocamos os três uns para os outros e divertimo-nos muito assim – o que faz como que não tenhamos tanta pressão. Nós gostamos de ter contacto visual entre os três. Nós tocamos para o público mas sobretudo tocamos uns para os outros. Nós formamos um triângulo em palco e o nível de estupidez que disparamos é alto e vasto mas é tudo muito natural.

 

O que nos podem adiantar acerca do novo álbum?

Não sabemos se vão gostar do nosso próximo álbum, mas há algo que nós podemos prometer. Terá sempre um, pé de dança. E, quando dizemos isso pesquisem, por favor, o que significa pé de dança. Mistério é mistério e nós,  Paraguaii levamos isto muito a sério.