MGallery&Studio: Uma galeria de todos e para todos!


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A MGallery&Studio foi inaugurada há poucos meses e pretende mudar as mentalidades de Leiria em relação ao streetart. Fomos conhecer o visionário por detrás deste e de outros projetos.

Ricardo Romero nasceu em Évora e cedo andava a pintar paredes munido de latas de spray e uma vontade de criar e partilhar a sua arte. Por volta do ano 2000, o graffiti e a streetart ganham uma nova dimensão e Ricardo muda com isso. Começa a procurar novas formas de expressão além do graffiti e aí começa também a surgir aquilo que viria a ser o seu projeto principal enquanto artista: o Projecto Matilha. O Projecto Matilha, que pode ser visto em algumas paredes de Leiria, retrata principalmente animais e pessoas próximas a Ricardo.

Em 2009, Ricardo Romero muda-se para Leiria e tem a preceção que existia todo um mundo de oportunidades por explorar a nível artístico e, em associação com outros artistas, cria o Uivo. Esta iniciativa aparece como “a parte educacional do Projecto Matilha” sem colocar em causa a linguagem artística de Ricardo e, mais importante que isso, pretende educar os mais novos para as artes, não só plásticas, dando-lhes ferramentas para a poder entender e até criar.

Ricardo Romero (à esquerda)

Ainda assim, Ricardo achava existir “um enorme desligamento das pessoas em relação às galerias e exposições”. Assim, com vista a aproximá-las, propõe à Câmara Municipal de Leiria o projeto Arte Pública, que demonstrou abertura total. A iniciativa surge com o objetivo de “criar um elo de ligação entre a arte e as pessoas.”

Para o artista, o Arte Pública não é apenas um festival. É um evento de artes que, além de embelezar a cidade, serve para educar e espevitar o sentido crítico de quem vê. Esse é um dos objetivos: “elevar a fasquia a nível artístico, não caindo no facilitismo de pintar apenas murais bonitos, mas que faça as pessoas interrogar-se”.

Depois deste trajeto, a M Gallery&Studio surge como o culminar de tudo o que veio antes. Apesar de sempre ter tido estúdio em Leiria, Ricardo considerava o o espaço isolado das pessoas e, ao perceber que já existe uma procura por este tipo de arte, a galeria vem colmatar esse distanciamento. “A M Gallery&Studio acaba por ser o complemento perfeito para todo este trabalho que temos vindo a desenvolver ao longo dos anos.”

É um espaço que funciona como galeria de quinta a domingo, de entrada livre, e que “pretende representar o que se passa atualmente no mundo da streetart e até onde as pessoas se podem deslocar e ter acesso e informações sobre os projetos que estão a ser desenvolvidos.” A localização do estúdio facilita o contacto das pessoas com o artista que se encontrar em residência artística e com o projeto que estiver a desenvolver. Uma premissa interessante é que as paredes da galeria serão repintadas por quem estiver a utilizar o espaço, criando uma dinâmica de mudança constante e personalização do espaço pelo artista, que as pessoas podem acompanhar.

Mas Ricardo não para por aqui e, além de já estar a trabalhar na 3.ª edição do Arte Pública, “para 2019 estão programadas seis exposições e vários open studio para as pessoas poderem conhecer os artistas e falar um pouco com eles e conhecer o seu trabalho”. 

“A galeria é a peça do puzzle que faltava, trazendo o trabalho desenvolvido na rua e, sem dúvida, que vão existir convites às pessoas para poderem visitar a galeria e que quer congregar artistas emergentes, ou não, mas que utilizem a rua como meio de expressão.”

Esta iniciativa pretende quebrar barreiras na aceitação e compreensão da arte urbana e não só, em Leiria, e também incentivar o consumo deste e de outros tipos de arte sendo um espaço de livre acesso. A MGallery&Studio chegou para ficar e para nos deliciar!

Dia 2 de março foi inaugurada a exposição Kynon de Ricardo Romero. O artista visa “cortar de vez com o lado figurativo d’A Matilha” tendo tirado inspiração do Cinismo, corrente filosófica de Diógenes. Tem aqui uma oportunidade de ver e experienciar a arte de Ricardo Romero, não perca!

As fotos no presente artigo são referentes à exposição realizada por Jorge Charrua, Lone Wolf que esteve em câmara entre dezembro e janeiro. 

 

Fotos: Teresa Neto