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Em mais uma sessão rumo aos Óscares, a Sofia Correia traz-nos um dos filmes onde o barulho (ou a falta dele) leva-nos por caminhos desconhecidos. A crítica a Sound Of Metal.
Por favor, digam-me que conhecem a minissérie “The Night Of”?!
Quem ainda não teve oportunidade de ver, não faz mal, vou perdoar! Há outras prioridades na vida, por exemplo, espero que ainda não tenham tido tempo para ver “The Night Of” porque estiverem ocupados com a série “The AO”? Ou talvez com o filme “Mogul Mowgli”? Já sei… com o nomeado ao Óscar para melhor filme do ano “Sound of Metal”!!
Se é o caso de não conhecerem nenhum destes conteúdos vou ficar triste, mas vou dar segundas oportunidades. Vão sempre a tempo de ver novas histórias, especialmente quando elas nos são contadas por pessoas tão talentosas, neste caso, como Riz Ahmed.
O ator teve, até ao momento, um percurso tímido, digo isto porque são já várias as participações em séries e filmes que teve, no entanto foi com “The Night Of” que ele chegou aos ouvidos dos quatro cantos do mundo e sim, os meus incluídos. Fiquei tão surpreendida com o seu trabalho que dei por mim a tentar ver mais personagens deste ator, que para mim era, mistério. Mais surpreendida fiquei por saber que só existiam pequenas ou leves participações… agora já mudou um pouco o currículo! Muito agradecida.
Como sempre já estamos atrasados, vamos lá falar do que interessa: “Sound Of Metal”! Há fãs de Metal na casa? Sou caloira, comecei recentemente a apreciar este estilo musical que se baseia (atenção que isto não é uma definição) em guitarras e baterias ensurdecedoras. Portanto, muito barulho. Agora, se é mau ou bom… gostos não se discutem!
Ruben foi o novo grande desafio de Riz Ahmed, a personagem principal de “Sound of Metal”. Este filme marca a estreia de Darius Marder como realizador e conta-nos a história de um músico de metal, Ruben, que começa a perder a audição.
Ruben era um homem problemático que encontrou uma forma saudável de lidar com o vício e foi a tocar bateria que conseguiu endireitar a sua vida. Começa a dar para o torto quando, subitamente, perde a audição e perde tudo aquilo que gosta. É forçado pela sua namorada, Lou (Olivia Cooke) a entrar numa clínica onde conhece um ex-alcoólico (Paul Raci) que também perdeu a audição e vai ajudá-lo a “viver sem som”.
Se tivermos que resumir o filme numa frase podemos dizer algo deste género, é uma história sobre um músico de metal que encontrou na bateria ensurdecedora um escape à toxicodependência até ao momento em que a súbita surdez o derrubou ao chão novamente!
É sensacional! Senti um esforço acrescido para equilibrar o estado físico e espiritual, é que este filme contém forças e fraquezas distintas e nunca escorregou no exagero ou no drama irreal que nos faz logo pensar “claro, só acontece nos filmes”. Acompanhei o percurso de Ruben sempre com uma dor no peito, sem querer ter pena, mas a tê-la inevitavelmente.
Riz Ahmed é soberano neste papel! Carrega raiva e uma certa violência que me assusta em alguns momentos, só que ele também tem lágrimas e depois fica impossível não compreender de onde vem tamanha dor. Essa dor passou para mim e acredito que passa para todos os que se deixam envolver por “Sound Of Metal”.
Esta personagem de Ahmed é extremamente complicada, por isso, temos sempre a sensação de que este não é um ator, é mesmo o Ruben com várias camadas que se vão revelando com subtileza. Não se pode comparar, perdoem-me por fazê-lo mas, se em “The Night Of” ele já tinha sido maravilhoso, neste filme foi 1000x melhor! Não é exagero!
Olivia Cooke, mesmo não sendo o centro das atenções, também consegue marcar a sua presença e foi, sem dúvida, uma ótima adição a esta história. A sua personagem, Lou, apesar de não nos ser contada com o mesmo detalhe, também teve um passado difícil e vamos tendo essas pistas não só nas suas cicatrizes, mas pela sua forma de agir.
Este filme tem o ponto mais forte na forma como nos faz calçar os mesmos sapatos que Ruben. Não foi só trabalho magistral do ator e de todos os que ajudaram a conduzir esta personagem, porque todo o trabalho da mistura de som foi incrivelmente eficaz! Por outro lado, também é com a utilização do silêncio ou de sons abafados que conseguimos ter uma experiência arrebatadora. Tudo isto nos ajuda a ver o filme pela perspetiva mais real e faz-nos estar no lugar de Ruben. Eu, por exemplo, não consegui evitar imaginar se fosse comigo!
Este filme parece feito para uma alma que é obrigada a encontrar paz. Os momentos de pura alegria não congelam e esta história relembra-nos que devemos apreciar o que damos como garantido. Até as mais pequenas coisas, como apreciar uma bateria ou apreciar o silêncio. Só nunca devemos apreciar o vazio.
Outro ponto fortíssimo que me deixou muito feliz foi a fotografia de Daniel Bouquet! Passar de tons cinzentos para tons belos das paisagens extremamente detalhadas foi um truque que me deixou os olhos a brilhar.
Só para terminar, não se deixem levar só pela atuação perfeita do ator britânico. Este filme tem de ser visto como ele merece e eu acredito que ele existe para nos contar uma mensagem sobre não termos controlo da vida… ou destino… ou o que queiram chamar!
Queremos e podemos, mas em muitas situações da vida não chega. O filme fala sobre esta falta de controlo do que queremos fazer e ajuda-nos a saber lidar com ela.
Caso algo mude por completo na minha vida, vou recordar-me de Ruben e de toda a dor que ele aprendeu a gerir, como se aceitasse que tem de viver com ela sem que isso signifique que seja tudo o que sente para o resto da vida. Pelo contrário, descobriu sentimentos que não sabia que existiam. Isto é bonito!
Classificação TIL: 7 / 10