Crítica: It’s a Sin – a história de uma pandemia que nunca podemos esquecer

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O vírus VIH é apenas o mote para a brilhante e emocionante história de “It’s a Sin”. Aqui fica a crítica de Sofia Correia à série disponível na HBO.

“It’s a Sin” é a nova série da HBO e chegou-me aos ouvidos porque fez chorar muitos amigos meus. Eu, como boa chorona que sou, não perdi mais tempo e avancei!

Sabem que eu adoro dar-vos um pouco de contexto antes de falar sobre o que realmente interessa. O realizador desta minissérie é Russel T. Davies, o mesmo que realizou “Years and Years”, também da HBO e com Emma Thompson no protagonismo. Essa é uma das minhas séries favoritas de sempre e não me canso de a recomendar. Era óbvio que tinha de aproveitar este momento para o fazer novamente. 

Para “It’s a Sin”, Russel T. Davies traz com ele (da série “Years and Years”) Lydia West, atriz, que na minha modesta opinião, foi a peça que mais brilhou nesta história. Desejei, em todos os momentos dos cinco episódios, que existissem mais pessoas como Jill Baxter, a personagem de Lydia West. Claro, podem dizer-me, “Sofia, a personagem é que é bem construída, não é a atriz que faz a diferença”, sim até pode ser verdade, a personagem é apaixonante por todas as razões e mais algumas, mas não fiquem a pensar que a atriz fez pouco. Fez muito e muito bem! Vamos lá:

Esta é a história de um grupo de 5 jovens amigos que vivem juntos em Londres na década de 80 e 90. Eles são Ritchie (Olly Alexander), Ash (Nathaniel Curtis), Roscoe (Omari Douglas), Colin (Callum Scott Howells) e Jill (Lydia West). Temos também, embora pequena, a participação de Barney Stinson, desculpem, de Neil Patrick Harris, que foi sem dúvida um dos momentos mais emocionantes desta história. 

Este grupo de amigos rapidamente começa a fazer-nos sentir que estamos a ver o dia a dia de uma família. Cada um deles tem um trabalho, amores e desamores, sonhos e pesadelos e todos são, amorosamente, unidos (lagriminha já no canto do olho). 

O que este grupo tem de diferente, provavelmente, da maioria dos grupos de amigos, é que são 4 rapazes homossexuais que escaparam para a capital britânica, longe das famílias, para finalmente terem oportunidade de serem eles próprios. E nesta “missão” entra Jill, a amiga que os acolhe com muito amor para dar e que os incentiva, em todos os segundos, a serem verdadeiros sem vergonha e preconceito.

Não é bom? Quando sentimos que somos diferentes, por qualquer motivo, do resto da nossa família e quando menos esperamos, encontramos um grupo de pessoas que nos compreende, que nos aceita e que nos ama tal e qual como somos? Nos cinco episódios, posso garantir-vos, vão sentir um abraço cheio de ternura de Jill, que olha para eles e para nós com muitas cores bonitas (ainda que nós estejamos deste lado do ecrã). 

Podia ser uma história feliz de um grupo de amigos que persegue sonhos em Londres, no entanto, essa fase durou pouco tempo. Começa um dos períodos de maior mudança na história LGBTQ+. Surgem os primeiros doentes pelo vírus VIH, um vírus que na época se acreditava que afetava apenas um determinado grupo de pessoas: Homossexuais. Uma doença nova, da qual pouco se sabia e que começou a tirar a vida a muitos jovens de todo o mundo. 

Hoje não podemos negar as conquistas que temos por aqueles que foram rejeitados e abandonados. No entanto, esta minissérie é uma memória dos tempos em que o mundo não reagiu, não lutou e não cuidou de milhares de jovens doentes. Muitos deles morreram sozinhos e isolados numa cama de hospital e somos recordados disso em todos os episódios!

No aparecimento deste vírus, Ritchie (Olly Alexander) foi o primeiro a negar a sua ameaça e o último a aceitar que, de facto, é um vírus mortal. Por outro lado, foi Jill quem começou a alertar este grupo de amigos. Quando descobriu que um amigo deles estava infetado, vemos Jill completamente assustada, a desinfetar tudo à sua volta e a tomar banho vezes sem conta. Mas nem esse medo a congelou e Jill continuou a estar presente. Cuidou de todos e garantiu que nenhum deles se sentisse sozinho (Pronto, a lagriminha já caiu).

 

Há dois grandes momentos nesta minissérie, ou melhor, dois grandes discursos. O de Ritchie (Olly Alexander) e o de Jill (Lydia West). Ambos os discursos são homenagens, não só aos jovens que perderam a vida durante aquela década, mas a todos os que se viram abandonados por terem tido a coragem de serem eles próprios e por aproveitarem cada minuto da vida da forma que os fazia mais felizes. Até gosto de pensar que toda a minissérie não é mais do que uma homenagem, no entanto, estes dois discursos são dois momentos maravilhosos que existem para nunca mais nos esquecermos do que fomos, do que somos e do que podemos ser! 

Esta é uma história de muitas cores, com muita música, muita dança e muito amor, mas também é uma história sobre vergonha, culpa, abandono e desinformação. É uma história de cores em tempos cinzentos.

Acredito com todas as forças que Russel T. Davies conseguiu levar aos quatro cantos do mundo informação importante e que pode, mesmo, salvar vidas (sim, mesmo quando estamos no século XXI). 

Os atores são maravilhosos. Destaco apenas Lydia West porque me roubou o coração todos os segundos, mas todos os protagonistas são incríveis. Aplaudo, também, a banda sonora que é, como devo dizer… muito “british”, que fica no ouvido. Gostava de conhecer o realizador Russel T. Davies só para lhe agradecer, mas depois penso nesse encontro e sei que ia ser vergonhoso porque eu não ia conter o choro. 

Enquanto via “It’s a Sin”, sentia a dor que não era minha e quis dar a mão a quem não me conhece. E mais importante do que isso, quando terminei de ver, tive finalmente a sensação de que estou aqui para aproveitar o tempo que ainda me resta, sendo sempre fiel a quem eu sou. 

Peço desde já as minhas desculpas porque podem estar a ler um texto demasiado emotivo, mas vocês não fazem ideia do quanto esta história é bonita e real! Vão lá ver, por favor!

 

Classificação TIL: 9/10