Muros que unem, rostos que marcam – João Galo, o senhor dos muros de pedra seca


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Depois de nas 7 Maravilhas da Cultura Popular, os Muros de Pedra Seca, em Porto de Mós, terem chegado à final, a TIL foi à descoberta de quem são as pessoas que estão dentro desta arte. E foi assim que ficámos a conhecer o Sr. João…

Os muros de pedra seca do concelho de Porto de Mós marcam uma paisagem e várias gerações. Existem alguns com mais de 100 anos e a sua funcionalidade é simples: guardar gado e dividir terrenos, mas quem os vê pela primeira vez acaba por apreciá-los com outros olhos, quer pela beleza harmoniosa que conferem a um espaço, quer pela arte engenhosa que só por si significam.

João Galo Pires tem 75 anos, vive na freguesia de São Bento, e não se lembra de existir sem os muros de pedra seca ao seu redor. O seu pai, tio e avô construíam muros e ele, com 30 anos, fez com que a tradição se mantivesse viva. “O meu pai construía muros e eu lembro-me de ir com ele muitas vezes
quando era garoto. Entretanto fui para a tropa e só na Junta de Freguesia é que aprendi realmente a fazer os muros.”, contou à TIL.

Nem toda a gente nasceu para esta arte. Para fazer um muro de pedra seca com sucesso é preciso ter a habilidade certa e paciência, uma vez que o processo de construção passa muito pelo método de tentativa e erro — “Há muitos que não sabem fazer os muros. Já trabalhei com algumas pessoas que realmente tentaram, mas não passaram dali. São pessoas que não aprendem mais que aquilo, mas isso é como em tudo. Têm jeito para outras coisas.”.
Infelizmente, João Galo – como gosta de ser tratado – é da opinião de que as gerações mais recentes já não se interessam tanto com a arte dos muros de pedra seca. “Antigamente haviam muitos a fazer os muros. Agora uns morrem e outros com a idade deixam de fazer. Aqui na serra há quatro ou cinco que ainda estão no ativo, mas não vejo os mais novos a interessarem-se por isto. Só conheço um rapaz de 40 anos que o faz, de resto mais ninguém.”, afirmou. Para além disso, sendo um trabalho que implica um grande esforço físico, acredita que os jovens preferem outro tipo de profissão. “Quando chegamos ao final do dia sentimos uma grande dor de costas”, afirma, mandando uma gargalhada.

A verdade é que os muros de pedra seca são apreciados por muita gente, especialmente por aqueles que não os veem diariamente. João Galo, como cresceu com os muros de pedra seca e sempre os encarou como um trabalho, não os contempla como alguém que vem de fora – “Quem está fora dá mais valor que a gente de cá. Nós nascemos no meio disto, os muros fazem parte da nossa vida desde sempre, vemo-los de forma diferente”. No entanto, sente-se bastante honrado ao saber que aquilo que durante toda a vida construiu foi realmente valorizado a nível nacional, mais concretamente no concurso 7 Maravilhas da Cultura Popular – “Sinto-me muito orgulhoso, é ver aquilo que toda a vida fiz a ser reconhecido. Esta é uma cultura muito antiga e diferente das outras que estiveram no concurso, muros de pedra seca só há aqui.”

 

Texto e fotos: Inês Fernandes