Crítica: Milagre na Cela 7 – o tearjerker da Netflix que nos leva até à Turquia


A versão original de Milagre na Cela 7 é um filme sul-coreano de 2013 cujo guião foi adaptado posteriormente na Índia, Filipinas e Indonésia – o que atesta sobre o apelo universal deste enredo. Uma questão diferente é perceber se a versão da Netflix fica para a história do cinema.

Esta adaptação turca  realizada por Mehmet Ada Öztekin é o quarto remake da história de Memo (Aras Bulut Iynemly), um pai que sofre de um distúrbio intelectual e é acusado de um homicídio que não cometeu; e da sua relação com a filha, Ova (Nisa Sofiya Aksongur), que anda na escola primária, mas tem a mesma idade mental que Memo.

A família protagonista vive num vilarejo que fica à beira-lago, algures na Turquia profunda, na altura em que o país vivia o rescaldo do golpe militar de 1980. O início do filme tem o condão de nos levar “a viajar”, ao mesmo tempo que faz uma belíssima reconstituição de época que aproveita este enquadramento histórico.   

A lei marcial vigora mas isso parece não incomodar Memo que é pastor e vive com a filha e a avó. Até que por um torvelinho de mal-entendidos, a sorte desta família muda, quando o protagonista é acusado de assassinar uma das colegas de escola de Ova. Para piorar tudo, o pai da criança que morreu é um tenente do exército turco, condição que, devido às circunstâncias que o país atravessa, lhe garante controlo sobre o poder judiciário.

Ova passa a contar apenas com o apoio da bisavó e da sua professora para lidar com a distância forçada entre si e o seu pai, ao mesmo tempo que luta pela inocência de Memo, tentando encontrar a testemunha que o pode ilibar em julgamento.

 

Enquanto isso, o filme mostra também a luta de Memo na prisão, com a sua candura e alegria em contraste com a crueldade dos condenados que o tratam como um assassino de crianças. Até que entendem que não pode ter sido o companheiro de cela a cometer o crime por que está acusado.

O filme aguenta-se bem até esta altura, que é quando a história se começa a enredar numa repetição de lugares-comuns, sejam a pouco credível humanização dos companheiros de cela, a diabolização do tenente do exército que a todo custo procura a condenação de Memo à pena capital, ou a série de episódios rocambolescos que fazem com que Ova seja temporariamente transportada para a cela de Memo.

A música é especialmente intrusiva – se o espetador tiver dúvidas, ali estão piano e violino a lembrar que é naquela cena  que deve sacar do pacote de lenços para limpar as lágrimas.

Existe uma palavra em jargão cinematográfico americano – tearjerker – para um filme que de forma deliberada se propõe levar a audiência às lágrimas. À falta de uma boa correspondência em português para esse vocábulo, pode dizer-se que durante boa parte da sua duração, Milagre na Cela 7 consegue ser um bom drama, mas apenas até se tornar num “dramalhão”.

Classificação TIL: 5.5/10