A Maceira é casa para um grupo de cervejeiros especializados em cerveja artesanal. Tivemos de ir descobri-los e, claro, também a cerveja.
O ano era 2016. Num encontro entre amigos, Filipe Sousa apresenta umas garrafas de cerveja feita pelo próprio. Ultrapassada a estranheza inicial, e após degustação, estavam convencidos de que a cerveja tinha potencial para ser comercializada. Depois de um debate de ideias, o criador confessou que gostava que a cerveja se chamasse “Silvais”. Em quase uníssono, os amigos responderam “Silvais?? Xó Carago!” E foi este o primeiro passo para a criação da cerveja Xó Carago.
Os sócios cervejeiros Nelson Carlos, Filipe Sousa, Luís Alves e Filipe Amaral são amigos e, mais que isso, apreciadores de cerveja artesanal há já muito tempo. Nélson e Luís são amigos e compadres de longa data e já queriam ter um negócio próprio há muito tempo. Unidos pelo gosto de cerveja artesanal, viram aqui uma oportunidade de ouro para juntar o útil ao agradável.
Passado o dia em que a ideia de fabricar cerveja surgiu, o grupo depressa começou a tentar perceber a melhor forma de traduzir a ideia em algo concreto. Desde a pesquisa de material ao licenciamento, passando pelas receitas e investimento na formação de cervejeiro, tudo foi pensado ao pormenor, para criar uma marca de cerveja que se entrasse facilmente no mercado de Leiria.
Ultrapassadas as dificuldades iniciais, incluindo um demorado processo de licenciamento, chegava a altura de começar a produzir e, segundo Nelson Carlos, a ideia principal era “criar uma marca que não ferisse o palato dos consumidores leirienses”. Outra meta a atingir pelos sócios era também desmistificar a cerveja artesanal.
Em conversa com a TIL, Nelson Carlos disse que é “impossível não gostar” de cerveja artesanal. “Quem não gosta é porque ainda não provou a cerveja certa”, adianta. Posto isto, foram lançados três tipos de cerveja: uma Dunkel Weiss (cerveja de trigo), uma Stout e uma Pilsner (ambas de malte).
A adesão foi tão grande que a Xó Carago chegou mesmo a entrar em rotura de stock. Por todo o distrito, os pedidos de fornecimento aumentam. Todos querem experimentar a nova marca de cerveja.
E o que é que distingue a Xó Carago das restantes cervejas artesanais? Estas cervejas são 100% malte, ou trigo, no caso da Dunkel Weiss. Tendo estes cereais como base são-lhes adicionados lúpulo, água e fermentos sem junção de açúcares. Uma receita bastante simples mas com os seus segredos.
Nelson Carlos compara o que fazem com o trabalho de um cozinheiro. “Queremos atrever-nos, como todos os cervejeiros artesanais fazem. No final de contas, o que fazemos é culinária, com um bocadinho de bioquímica. A partir daí vamos descobrindo sabores e experimentando.” É esse o rumo que os sócios querem dar à marca: aprofundar os caminhos da cervejaria artesanal e marcar o seu cunho como cervejeiros. Até já há rumores que no proximo ano será lançada uma nova cerveja do estilo Ippa.
Não podemos revelar os segredos todos, mas o ingrediente mais importante é o amor com que estas pessoas trabalham. Na visita da TIL à fábrica da Xó Carago, além de provarmos as várias cervejas, conseguimos sentir o carinho com que estes cervejeiros criavam e tomavam conta de todo o processo. De cerveja na mão e olhar nos tanques, os sócios tomam conta de cada litro como se de um filho se tratasse e o resultado é notório.
Nenhuma das cervejas que provámos (Dunkel Weiss, Stout e Pilsner) tinha um gosto agressivo. Todas eram fáceis de beber, o que é um testamento do objetivo dos criadores: ter uma cerveja acessível a todos, mesmo aqueles que não gostam de cerveja artesanal. E podemos confirmar isso! Talvez seja até demasiado acessível, pois bebemos das três variedades. E se mais houvesse, mais teríamos bebido.
O ambiente familiar e descontraído com que se trabalha na Xó Carago transparece para a cerveja e todos dão uma ajuda. Seja a provar, a embalar ou a comprar, vários residentes das redondezas aparecem na fábrica e, ao sábado, dia de produção, não faltam provadores nem ajudantes. Até a TIL teve um convite para aparecer um sábado na fábrica. Apenas temos de levar as galochas para ajudar no fabrico.
Fotos: Pedro Ferreira